domingo, 6 de junho de 2010

Jornada dupla e desumana

Homens enfrentam longas noites como vigilantes para complementar a renda Foto: Ana Amaral /DN/D. A Press
Policiais fazem "bico" como seguranças quando deveriam descansar ou se divertir. Saúde e relações pessoais são sacrificadas.

Embora o Estatuto da Polícia Militar do RN especifique que os profissionais devam se dedicar integralmente à corporação, quase todo policial conhece um colega de trabalho que atue em outro local nos horários e dias de folga, sobretudo fazendo segurança particular. É o caso de André, um PM que teve o nome trocado para não ser identificado e em 10 anos de vida dedicada à segurança pública, já passou sete deles em longas jornadas de trabalho, divididas entre o trabalho fardado e a vigilância privada.
Atualmente, André trabalha como segurança em um supermercado na Zona Norte de Natal, onde se reveza com mais três soldados, coordenados por um cabo que fez a "ponte" com a empresa. Lá, o policial dedica cerca de 160 horas por mês, que somam-se às 200 horas, aproximadamente, na PM. "Vivo assim para dar uma vida melhor à minha esposa e minha filha", justificou, afirmando que o salário que recebe do estado é baixo, embora reconheça que tem parte dele comprometido em umempréstimo.
O salário-base do soldado PM potiguar gira em torno de R$ 1,6 mil líquidos, além de um aumento de 5% a cada cinco anos. André recebe R$ 600 pelo "bico". "Me ajuda porque minha esposa é auxiliar de serviços gerais e recebe um salário mínimo". O policial poderia, ainda, receber uma bolsa-formação, com a qual, em troca de se aperfeiçoar com cursos de extensão, receberia R$ 400 mensais durante um ano, podendo prorrogar. Mas é impedido de se matricular porque já esteve preso administrativamente.
Burocracia
"O 'bico' é uma realidade que envolve a maioria dos soldados", afirmou o PM. Segundo André, há possibilidade de ganhar mais no serviço oficial fazendo horas extras, mas há também uma grande barreira. "Temos que passar horas, até madrugar, para pegar uma ficha e registrar esse tempo de trabalho a mais. Se funcionasse, eu não faria bico, porque daria tranquilamente para tirar até R$ 500 a mais". Os salários de André pagam aluguel, escola, um consórcio de uma motocicleta, além de plano de saúde parao filho, de seis anos, "e lazer, é claro".
Dentre as consequências de tantas horas trabalhadas sob tensão, André diz que já sofre de problemas no joelho esquerdo, aumento no tamanho do coração e revela, ainda, que precisa tomar remédio contra insônia. "Eu nem sou dos piores casos, porque pelo menos procuro médico e tomo alguma coisa. Mas a maioria dos meus colegas não vai atrás de ajuda, acha que é besteira". O policial chegou a dizer à reportagem que acredita que viverá pouco, mas "leva na flauta". "O trabalho nas ruas é extremamente estressante. Pode acreditar que a gente começa o serviço pedindo para terminar", desabafou André. "Em casa, acabei me tornando uma pessoa estúpida, sem paciência".
fonte:diáriodenatal/NPrn

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