Diversas viaturas da Polícia Militar estão em oficina mecânica sem uso (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)
Sem viaturas suficientes para atender as ocorrências em Campo Grande, policiais do Batalhão de Choque estariam "aquartelados", segundo o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul (ACS), Edmar Soares da Silva. Ele ressaltou que "criminosos" já estariam sabendo do problema e inclusive realizando pichações destinada aos militares.
A assessoria de comunicação da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MS) ressaltou que, um dos concorrentes, questionou a licitação de concessão de novas viaturas e por isso o processo ficou "travado". Eles ainda negaram qualquer ação judicial de improbidade administrativa movida contra o órgão.
"Os policiais do Choque estão aquartelados desde a semana anterior. Eles estão inclusive sofrendo ameaças públicas, com pichações na cidade. Infelizmente isso acontece porque, mesmo diante as poucas condições, eles tem feito muito. Mas com pouca ou nenhuma viatura eles ficam muito desmotivados", afirmou ao G1 o presidente.
Viaturas "baixadas"
Sobre o processo licitatório, Soares ressaltou que aguarda o andamento de uma ação judicial. "Na véspero do feriado de aniversário da cidade, dia 26 de agosto, eu encaminhei documentos para a Secretaria de Justiça. Ao invés de ser tomada as devidas providências, eles devolveram os documentos ao Comando Geral da PM e agora aguardamos um parecer do TCE [Tribunal de Contas do Estado]", ressaltou o presidente.
Em sua rotina de trabalho, conforme Soares, o Batalhão de Choque atua em apoio a todas as unidades de segurança em Mato Grosso do Sul. "Há mais de um ano nós tínhamos em média 22 viaturas e, na semana anterior, somente uma atendia a cidade, já que todas as outras estavam baixadas. Nós até movemos uma ação de improbidade administrativa por parte da Sejusp e tomamos conhecimento de que o processo ficou interrompido por determinação do TCE", explicou o presidente.
Viaturas da Polícia Militar, Polícia Civil, Perícia e Departamento de Operações da Fronteira (DOF) estão em pátio de oficina mecânica (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)
Mecânico na delegacia
Entre as denúncias recebidas no sindicato, o presidente relembra um atendimento no bairro Aero Rancho, região sul da cidade. "Os policiais estavam com uma viatura somente para atender uma ocorrência na grande Aero Rancho, que compreende cerca de 150 mil habitantes. Eles apreenderam uma quantidade razoável de droga e encaminharam para a delegacia. Ao chegar já entraram em contato com o mecânico e foram embora sem a única viatura dispónível", garantiu o presidente.
Sobre o processo licitatório, o presidente ressaltou que uma empresa já teria adquirido 19 veículos Toyota SW4. Os carros, segundo Soares, estariam em uma concessionária, aguardando o pagamento da empresa para ser feita a pintura especial e a colagem.
Viaturas estacionadas em oficina (Foto: Maria Caroline Palieraqui/G1 MS)
"A qualquer momento, eles podem voltar para a fábrica. Os veículo adquiridos são semelhante a ROTA, em São Paulo, com câmbio mecânico especial e a suspensão mais reforçada. A concessionária já afirmou que vai transformar os carros em câmbio automático e estamos correndo o risco de perder, então é preciso que o TCE resolva a questão com o Poder Executivo", analisou o presidente.
Questionado sobre o problema, o tenente-coronel Marcos Paulo Gimenez, comandante do Batalhão de Choque, disse que está "apertando" os órgãos competentes para a solução do problema. "Já enviamos ofícios e tudo o que foi necessário. Eles estão resolvendo o problema", afirmou ao G1 Gimenez.
Efetivo parado
Policial há aproximadamente 20 anos, um integrante do BPChoque, que preferiu não se identificar, confirmou as denúncias. “O nosso efetivo está parado há quatro meses por falta de viaturas. Conseguimos deslocar uma equipe quando tem a parceria de algum sindicato, mas, isso é dia sim e dia não. Já aconteceu de viatura cair pneu. Os carros mais novos são de 2007, estão muito usados”, contou o policial.
Como o BPChoque não tem viaturas para atender as ocorrências diárias, o policial explicou que treinamentos estão sendo repetidos para que os homens da tropa fiquem ocupados. “Nós estamos só fazendo atividades internas. A gente está repetindo treinamento de técnicas que aprendemos para manter a tropa ocupada, para os homens [da tropa] não ficarem ociosos. É uma frustração, não podemos empregar o nosso trabalho”, revelou. “Todo dia os homens que servem o batalhão observam quatro ocorrências, e as quatro não podemos atender, por falta de viaturas. É um problema crônico”, completou.
A tropa ouve a ocorrência mas fica impedida de fazer seu trabalho. [...] Não temos como chegar ao local. É frustrante. [...] Se desse para ir a pé para ocorrência a gente ia, mas não tem como"
Integrante do Batalhão do Choque
O policial ainda disse ao G1 que o BPChoque é o único batalhão que faz intervenções prisionais no estado, além de terem equipamentos para realizar esse tipo de ocorrência.
“O batalhão é o único. Em Mato Grosso do Sul temos o segundo maior público carcerário do Brasil. Hoje, se tiver uma rebelião não temos como atender. É uma vergonha, já tivemos que locar um ônibus para deslocar a tropa para rebeliões”, informou.
Rádios desligados
“O que eu mais sinto, é pela minha tropa, tem dias que eles desligam o rádio [equipamento em que ouvem as ocorrências para atendê-las] porque eles não querem ouvir uma viatura pedindo apoio. Não tem como dar apoio. Para minimizar a situação a gente desliga o rádio, porque não temos como atender a ocorrência, prestamos atenção somente no telefone. Não podemos atender a rua”, desabafou o homem.
O policial ressaltou a frustração e disse que tentam “ocupar o homem [da tropa]. Quando eles vão trabalhar, trabalham motivados, a motivação deles é mostrar o nosso trabalho, mas, assim não tem como. Nosso grande problema é mostrar para tropa que tudo isso é uma missão do estado. A tropa ouve a ocorrência mas fica impedida de fazer seu trabalho, não porque não quer, mas, porque não tem como, não temos como chegar ao local. É frustrante”.
“Hoje em dia o governo gasta muito com propaganda, obras. Só que as incidências de crimes aumentaram, principalmente crimes em que quadrilhas fazem famílias reféns. Não temos um carro para deslocar, se desse para ir a pé para ocorrência a gente ia, mas não tem como”, finalizou o integrante do BPChoque.
* G1 MS
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