O que é a síndrome da morte súbita do lactente?
A síndrome da morte súbita do lactente (SMSL) é a principal causa de morte em bebês com menos de 1 ano de vida. Ela é caracterizada por um quadro de morte súbita, inesperada e sem causa aparente, que ocorre, em geral, durante o sono noturno de um bebê aparentemente saudável e que permanece inexplicada após uma extensa investigação, incluindo a autópsia.
A síndrome da morte súbita do lactente, também chamada de síndrome da morte súbita infantil ou “morte do berço” é uma situação rara, porém traumática, pois ela é totalmente inesperada. A sua real incidência no Brasil é desconhecida, mas imagina-se que seja semelhante a de outros países, com média de 1 a 5 casos para cada 10.000 bebês. Nos E.U.A, ocorrem, a cada ano, cerca de 2500 casos de morte súbita em bebês.
O diagnóstico da síndrome da morte súbita do lactente só pode ser estabelecido depois de descartadas outras possíveis causas de morte, como maus-tratos, acidentes, envenenamento, infecções ou doenças genéticas previamente desconhecidas. Em apenas 15% dos casos de morte súbita é possível identificar uma causa para morte.
A morte súbita do bebê ocorre habitualmente em crianças com idade entre 1 mês e 1 ano de vida, mas 90% dos casos acometem bebês com menos de 6 meses. A época mais perigosa, com maior número de casos, é entre 2 e 4 meses. A maioria dos bebês morre durante o sono, geralmente entre meia-noite e 6 da manhã, e não há sinais de que eles tenham tido qualquer tipo de sofrimento. 60% dos casos ocorrem em meninos.
É importante destacar que a SMSL não é um sinal de negligência dos pais. Essa forma de morte súbita não é causada por vacinações nem é contagiosa. Bebês e crianças que tiveram contato recente e próximo com um bebê falecido não correm nenhum risco. Também não existem evidências de que a SMSL tenha algum fator hereditário. O risco de uma família que já teve um caso de morte súbita infantil ter um novo episódio com um segundo filho é de apenas 1%.
Causas
Como acabamos de referir, para ser considerada síndrome da morte súbita infantil, o bebê falecido não pode ter nenhuma causa identificável de morte. Isso não significa, porém, que a SMSL não tenha uma causa. Com certeza tem, nós é que ainda não conseguimos identificá-la.
Entre as teorias mais aceitas atualmente, uma tem ganhado bastante destaque. Imagina-se que a SMSL ocorra por um atraso na maturidade do tronco cerebral do bebê, área do sistema nervoso central que controla a respiração, os batimentos cardíacos e a pressão arterial. Bebês propensos à morte súbita têm maior dificuldade de acordar quando submetidos a situações de estresse, como baixa oxigenação ou excesso de calor.
A teoria da imaturidade do sistema nervoso central é corroborada pelo fato da morte súbita ser mais comum em bebês prematuros ou com baixo peso ao nascimento.
Fatores de risco
Somente a imaturidade do sistema nervoso cerebral não parece ser suficiente para explicar a ocorrência da morte súbita nos bebês. O mais provável é que o quadro de SMSL seja multifatorial, ocorrendo quando um bebê com maior predisposição é submetido a uma ou mais situações de risco, como as que serão explicadas a seguir.
Estudos mostram que em 95% dos bebês que sofreram uma morte súbita inexplicável é possível identificar pelo menos 1 fator de risco. Em 88% dos casos, 2 ou mais fatores de risco podem ser apontados.
Dormir de bruços pode causar morte súbita em bebês
Entre os principais fatores de risco, um deles se destaca: dormir de bruços, ou seja, com a barriga para baixo.
A partir da década de 1990, várias sociedades internacionais de pediatria lançaram campanhas para estimular os pais a colocar os bebês para dormir de barriga para cima. Nos E.U.A, em 1992 cerca de 75% dos bebês dormiam de barriga para baixo. Após 10 anos de campanha, essa taxa caiu para apenas 11%. Esta simples mudança na posição de dormir foi responsável por uma redução de 58% nos casos de morte súbita em bebês.
A posição com maior risco é a de bruços. Deixar o bebê dormir de lado também é perigoso, apesar de não tanto quanto de bruços. A forma mais segura de pôr o seu bebê para dormir é de barriga para cima.
Colchão que impede que o bebê vire-se durante o sono
Por imaturidade do sistema nervoso central, bebês muito novos parecem ter menos capacidade de reconhecer que estão sufocando, por isso, não costumam acordar nem mudar de posição quando estão com dificuldade para respirar durante o sono. Dormir de barriga para baixo dificulta a respiração do bebê e facilita que ele fique com a cara voltada para o colchão, o que favorece a obstrução das vias aéreas. Por esse motivo, colchões muito moles ou a presença de travesseiro, panos ou lençóis ao redor da cabeça do bebê também devem ser evitados.
Dormir no mesmo quarto dos pais diminui o risco de morte súbita, mas dormir na mesma cama que eles aumenta, pois torna a superfície do colchão mais irregular. Alguns pediatras também não recomendam que bebês gêmeos durmam no mesmo berço.
Também é importante evitar que o bebê durma durante muitas horas em locais que não sejam a cama do berço. Cadeirinhas para carro, bebê-conforto ou carrinho de bebê são feitos para transportar o bebê e não devem substituir a cama durante a noite.
Ambientes quentes podem ser perigosos para o bebê
Outro fator que costuma estar ligado à morte súbita do bebê é o calor. Quartos com temperatura muito elevada ou bebês que dormem com excesso de roupa e com muitas cobertas estão sob maior risco.
Como os bebês perdem muito calor pela face, dormir de barriga para baixo em quartos quentes torna-se perigoso, pois além de não conseguir respirar bem, a face encostada à cama tem menor capacidade de dissipar calor.
Relação do cigarro com a morte súbita de bebês
Outro importante fator de risco para morte súbita de bebês é o tabagismo materno. Mães que fumam durante a gravidez ou que voltam a formar logo após o parto, expondo o bebê ao fumo passivo, aumentam muito o risco da SMSL.
O contato precoce com a fumaça ou com as toxinas do cigarro ainda no período intrauterino altera o funcionamento normal cardiovascular e respiratório, tornando o bebê mais susceptível a episódios de sufocamento na cama.
Mães que fazem uso de drogas ilícitas ou abusam de álcool também têm maior risco de terem um bebê que apresente morte súbita.
Outros fatores de risco
Segundo a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, os seguintes pontos também estariam relacionados à morte súbita infantil:
Multiparidade (ter gêmeo, trigêmeo, etc.).
Nascimento prematuro.
Tem um irmão ou irmã que sofreu SMSL.
Intervalo de tempo curto entre gravidezes.
Mãe adolescente.
Viver em condições de pobreza.
Ausência de pré-natal ou início tardio do mesmo.
Dormir na mesma cama que os pais.
Como reduzir o risco de morte súbita?
O que deve ser evitado:
Como já explicado neste texto, a atitude que mais reduz o risco de morte súbita do lactente é colocar o bebê para dormir de costas, com a barriga para cima. Bebês muito pequenos não mudam de posição durante o sono. Se você o puser de barriga para acima, assim ele ficará, caso a cama seja firme e não tenha irregularidades.
Bebês devem dormir na cama, evite deixá-lo a noite toda no carrinho ou no bebê-conforto.
Evite objetos na cama que possam ser puxados de forma acidental para a cara a do bebê, como panos ou lençóis.
Bebês não precisam de travesseiros nem cobertor.
Evite colchões muito macios.
Não deixe o bebê dormir na sua cama durante a noite.
Não fume na gravidez nem após o parto.
Não deixe o quarto do bebê ficar muito quente. Se você mora em locais frios, cuidado para não vestir o bebê com excesso de roupas.
O que pode ajudar:
Dormir no mesmo quarto do pais (não na mesma cama) até os 6 meses.
Uso de chupetas exclusivamente à noite para dormir a partir do primeiro mês de vida. Atenção: chupetas antes do primeiro mês podem atrapalhar o aleitamento materno e após os 2 anos podem atrapalhar a dentição.
Aleitamento materno diminui o risco de SMSL.
Mantenha a temperatura do quarto ao redor dos 23ºC, de forma a que o bebê possa ficar confortável sem precisar se agasalhar excessivamente.
Existem no mercado algumas monitores de respiração e batimentos cardíacos para bebês. Os estudos, porém, mostraram que esses aparelhos não diminuem o risco de síndrome da morte súbita do lactente, por isso, não são recomendados.
*Médico autor: Dr. Pedro Pinheiro/Mdsaúde
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