O afastamento de policiais militares por problemas de saúde ligados a questões psicológicas cresceu 12 pontos porcentuais em quatro anos no Rio Grande do Norte. Em 2014, correspondia a 45% do total de policiais afastados por questões médicas. Atualmente, a quantidade de PMs de licença por questões psicológicas equivale a 57% do total. O número total de PMs afastados por licença médica, no entanto, diminuiu: em 2014, foram 700 policiais. Atualmente, são 397 afastados, de acordo com a comissão multidisciplinar da PM/RN.
De acordo com o major Wellington Camilo, presidente da comissão multidisciplinar, os afastamentos se dão pelos mais variados tipos de doença, mas os problemas psicológicos lideram a lista, seguidos pelos traumatismos ortopédicos. Ele ainda ressalta que o número oscila semanalmente para mais ou para menos, de acordo com a frequência de visita dos policiais à junta médica da PM.
A ausência de condições adequadas de trabalho e o aumento da criminalidade nos últimos anos, aliadas ao envelhecimento do efetivo da PM, foram os principais fatores que contribuíram para o aumento do índice de problemas psicológicos, de acordo com o coordenador do Serviço de Psicologia do Centro da Atenção Básica de Saúde (CABS) do Centro Clínico da PM, o primeiro-tenente Domiciano Cavalcante Aguiar Filho.
“O trabalho policial tem alta carga de estresse. Isso tem crescido com o passar dos anos com o aumento da criminalidade e o aumento da escala de serviços, porque o efetivo é baixo”, explica o militar.
Aguiar Filho, do Serviço de Psicologia, lembra que o trabalho policial tem alta carga de estresse
A procura por serviços psicológicos por parte dos policias, diz o tenente, tem melhorado nos últimos anos. “Temos notado uma maior procura, o que é positivo. Há uma cultura de que o policial militar não deve dar vazão ou se permitir sentir as coisas, quando na verdade ele é um ser humano como qualquer outro”, afirma. Para os policiais militares, de acordo com ele, há duas grandes barreiras quando se fala em procurar ajuda: a primeira é a da farda e, a segunda, a da própria cultura, que muitas vezes o homem como imune aos transtornos psicológicos.
“Tendo em mente essa realidade, atuamos em duas frentes: oferecendo psicoterapia aos militares que procuram nossos serviços, e indo até os Batalhões para tentar identificar as principais dificuldades de cada grupo específico, e buscar agir a partir daí”, completa Aguiar Filho. Em média, no Centro Clínico, são realizados 35 atendimentos semanais. Aguiar Filho reforça também que a não procura da ajuda psicológica profissional pode acarretar consequências sérias na vida pessoal e profissional do policial.
“Ele pode começar a apresentar problemas fisiológicos, problemas nas relações familiares, com os colegas de trabalho... Tudo isso está interligado. Além de, é claro, uma queda no desempenho, falta de motivação. Tudo isso precisa de tratamento e atenção”, reforça.
Em entrevista concedida à TRIBUNA DO NORTE no último sábado (10), o Coronel Zacarias Mendonça, comandante do Policiamento Metropolitano do RN, disse que o baixo efetivo é mais uma das causas que tem aumentado esses índices. "
O policial que está na rua direto se depara com ações que não pode resolver porque não tem gente pra dar suporte. Reflete no desgaste do policial", explica o coronel. Por ano, cerca de 300 policiais militares se aposentam no Rio Grande do Norte. O Estado deveria contar com um quadro de 13.466 policiais. Atualmente, no entanto, conta com cerca de 8 mil.
A PM é uma das categorias que aguarda, há pelo menos 13 anos, a realização de um concurso para renovação do efetivo. Com o lançamento de um edital prometido para este ano, o reforço no efetivo só deverá chegar, caso a previsão se concretize, em 2019. Após o curso de formação da tropa que tem a duração de dez meses, com disciplinas como prática de tiro, formação militar e o aprendizado de técnicas de abordagem.
Para o Coronel Mendonça, o baixo efetivo amplia não apenas os problemas psicológicos, como também outras doenças causadas pelo desgaste físico dos policiais, que tem que trabalhar para suprir a lacuna existente.
“Isso causa desgaste. Um motociclista da Rocam, por exemplo, tem muito problema de postura se ficar muito tempo sentado, e não tem outras pessoas com quem dividir o trabalho", afirma Mendonça. Em média, o Rio Grande do Norte possui um policial para cada 426 habitantes.
*Tribuna do Norte
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