quarta-feira, 23 de março de 2011

O problema da violência é um problema de machismo

“Homem não pode chegar em casa apanhado”. “Homem não chora”. “Seja homem!”. “Que homem medroso!”: esses e outros chavões permeiam a cultura em torno do que deve ser o homem em nossa sociedade. A formação dum perfil de masculinidade infalível, insensível e agressivo está diretamente ligado à perpetuação de práticas violentas pelos homens, que ao mesmo tempo são autores e vítimas da violência, notadamente na juventude, fase em que o controle familiar e social são vistos como empecilho ao exercício da individualidade.

Desde a infância, o menino tem a educação direcionada a práticas violentas, ao tempo em que é censurado por qualquer postura que exalte alguma sensibilidade, associada logo ao homossexualismo. A resolução de conflitos através de alternativas negociadas é desencorajada, e qualquer tipo de sofrimento íntimo não pode ser expresso, pois, caso isso ocorra, o garoto é “fraco”, menos homem.

Disso decorre que nós, homens, somos bombas-relógio, pessoas que cultivam uma série de frustrações, medos e problemas inconfessados, prontos a se desdobrar em violência na primeira oportunidade. Claro que isso possui níveis variados, conforme a educação e vivência individuais, porém, não admitir este fato é ignorar o porquê de mais de 80% das mortes por causas externas no Brasil terem como vítimas os homens.

A partir deste raciocínio, o leitor entenderá porque exalto e defendo a presença das mulheres nas instituições policiais, apesar delas ainda não estarem ocupando suficientemente seu papel nas polícias brasileiras – negando e eliminando a reatividade truculenta e machista das nossas corporações. Suspeito que muito da violência policial descabida é explicada pelo elemento machista, que vê a ação criminosa como um ataque à sua masculinidade. E como “homem não pode chegar em casa apanhado”…

Se queremos diminuir a violência em nossa sociedade, precisamos desfazer o modelo de masculinidade vigente. Ele não deixa enxergar que soluções pacíficas para os conflitos são possíveis, que a repressão é trágica e que a força é o último recurso a ser adotado. Vejo a arte e a fomentação da cultura de paz como bons canais de formação duma neomasculinidade, tanto para jovens vulneráveis quanto para policiais que precisam adquirir alguma sensibilidade e serenidade em suas vivências. Ou se investe nesta (des)construção, ou continuaremos a sofrer com a guerra entre machos – policiais e criminosos.
Autor: Danillo Ferreira
*Abordagem Policial


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