sexta-feira, 16 de novembro de 2012

“MEU” CANARINHO AMARELO

Dr. Hildebrando DinizNos meus tempos de criança, perto lá de casa, um casal de canários todos os dias ao amanhecer, cantava bem no topo de uma enorme catingueira que havia no oitão.

Naquele meu instinto de travessura, eu ficava morto de inveja daquele casal de seresteiros, cuja plumagem amarelada reluzia como ouro.

Um dia resolvi que iria preparar uma armadilha para capturar o casal de canários. No meu egoísmo, queria ouvi-los cantar mais perto de mim. Pretendia ser seu “dono”.

Depois de muita perseguição, consegui segregar a fêmea numa gaiola. Daí por diante assistia todos os dias o canário macho solitariamente cantando lá do alto da árvore, como se estivesse aflito com a prisão da sua companheira de espetáculo.

Nos galhos mais baixos daquela planta sombria, estava minha armadilha: Uma gaiola com sua companheira aprisionada. Ao lado um alçapão, pronto para agarrá-lo a qualquer descuido.

Algum tempo passou e de tanto aquele pobre canário se debater ao redor da gaiola, um dia o alçapão disparou e ele também ficou preso, para a minha grande alegria.
            
Ficaram os dois juntos na mesma prisão. Só que aquele canário bonito e cantador, desde o primeiro momento do encarceramento entrou em desespero. Debatia-se sem parar tentando escapar da enxovia. Na sua infinita aflição, sequer olhava para sua amada. Não cantava, não queria comer e nem beber. Só faltava dizer: O que eu quero mesmo é a minha liberdade.
             
E naquele ritual desesperador, as penas coloridas se desprendiam do seu corpo pequenino e eram levadas impiedosamente pelo vento que soprava. O seu calvário só durou três dias.
            
Não se conformando com a perda da liberdade, o pobre e indefeso pássaro acabou morrendo de tédio, deixando a companheira viúva.
            
Com desgosto soltei-a para, pelo menos curtir a saudade do seu amor, em liberdade e contemplando o Céu infinito visto do alto daquela árvore frondosa onde outrora em dupla com o falecido fazia show.
            
Aquela linda canária amarela, depois arranjou um novo companheiro, (não mais um canarinho cor de ouro como o extinto), no entanto, não conseguiu suportar a solidão da floresta. E eu, após chorar desvairadamente, assistindo aquele drama, quebrei a gaiola e nunca mais encarcerei nenhum pássaro.
            
Hoje reflito com muita tristeza a insensatez da humanidade quando confina os animais silvestres, especialmente os pássaros, só porque eles são belos ou cantam bonito. Isso é puro egoísmo. Nós não temos o direito de propriedade sobre eles. A prisão ficou para os bandidos, para os que não conseguem conviver em sociedade. Os pássaros são os artistas da floresta e a arte de cantar ainda não é considerada crime.

Por: Dr. Hildebrando Diniz/Catolé News

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