Naquele meu instinto de travessura, eu ficava morto de inveja daquele casal de seresteiros, cuja plumagem amarelada reluzia como ouro.
Um dia resolvi que iria preparar uma armadilha para capturar o casal de canários. No meu egoísmo, queria ouvi-los cantar mais perto de mim. Pretendia ser seu “dono”.
Depois de muita perseguição, consegui segregar a fêmea numa gaiola. Daí por diante assistia todos os dias o canário macho solitariamente cantando lá do alto da árvore, como se estivesse aflito com a prisão da sua companheira de espetáculo.
Nos galhos mais baixos daquela planta sombria, estava minha armadilha: Uma gaiola com sua companheira aprisionada. Ao lado um alçapão, pronto para agarrá-lo a qualquer descuido.
Algum tempo passou e de tanto aquele pobre canário se debater ao redor da gaiola, um dia o alçapão disparou e ele também ficou preso, para a minha grande alegria.
Ficaram os dois juntos na mesma prisão. Só que aquele canário bonito e cantador, desde o primeiro momento do encarceramento entrou em desespero. Debatia-se sem parar tentando escapar da enxovia. Na sua infinita aflição, sequer olhava para sua amada. Não cantava, não queria comer e nem beber. Só faltava dizer: O que eu quero mesmo é a minha liberdade.
E naquele ritual desesperador, as penas coloridas se desprendiam do seu corpo pequenino e eram levadas impiedosamente pelo vento que soprava. O seu calvário só durou três dias.
Não se conformando com a perda da liberdade, o pobre e indefeso pássaro acabou morrendo de tédio, deixando a companheira viúva.
Com desgosto soltei-a para, pelo menos curtir a saudade do seu amor, em liberdade e contemplando o Céu infinito visto do alto daquela árvore frondosa onde outrora em dupla com o falecido fazia show.
Aquela linda canária amarela, depois arranjou um novo companheiro, (não mais um canarinho cor de ouro como o extinto), no entanto, não conseguiu suportar a solidão da floresta. E eu, após chorar desvairadamente, assistindo aquele drama, quebrei a gaiola e nunca mais encarcerei nenhum pássaro.
Hoje reflito com muita tristeza a insensatez da humanidade quando confina os animais silvestres, especialmente os pássaros, só porque eles são belos ou cantam bonito. Isso é puro egoísmo. Nós não temos o direito de propriedade sobre eles. A prisão ficou para os bandidos, para os que não conseguem conviver em sociedade. Os pássaros são os artistas da floresta e a arte de cantar ainda não é considerada crime.
Por: Dr. Hildebrando Diniz/Catolé News
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