sábado, 2 de março de 2019

Laudo aponta reviravolta e crianças que denunciaram estupro disseram que 'pai as aterrorizou' para mentir

Irmãos se negaram a voltar para casa e acabaram denunciando estupro em MS, diz polícia — Foto: Ariovaldo Dantas/TV Morena

Laudo pericial confirmou que a denúncia de estupro, envolvendo duas crianças de 9 e 11 anos, em Campo Grande, era mentirosa. O tio, um assistente social de 29 anos, que já registrou boletim de ocorrência por ameaça contra o pai das vítimas, disse que ele e a madrasta as "aterrorizaram" para mentir, inclusive agredindo o menino com um soco no olho.

"O laudo chegou aqui na delegacia e não apontou sinais e/ou vestígios de ato libidinoso ou conjunção carnal. No outro documento, confirma a versão de que as crianças foram obrigadas pelo pai a falar que tinham sido estupradas. Elas ainda disseram que o tio cuida bem delas e compra tudo o que elas precisam. Houve ainda um hematoma no olho direito do menino e, questionado pelo perito médico, ele comentou que o pai bateu nele", afirmou ao G1 a delegada Ariene Murad, da Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (Deaij).

Ainda conforme Murad, cópia integral do procedimento será encaminhada para Delegacia Especializada de Proteção à Criança e o Adolescente (Depca). "Vamos informar que o adolescente não praticou qualquer ato libidinoso e nem lhes forneceu droga, então a intenção é apurar qualquer eventual maus-tratos por parte do genitor ou outro delito, principalmente porque imputou ato infracional a um menor", ressaltou.

O tio lamenta o ocorrido. "Eles [pai e madrasta] aterrorizaram as crianças a mentir, dizendo que o irmão mais velho os havia estuprado. As crianças me amam muito e, segundo elas, o pai dizia que quebraria o meu carro e me matasse, caso elas falassem a verdade. No segundo depoimento, no setor psicossocial, elas falaram a verdade e agora sou eu quem pretende denunciar o pai por calúnia e maus-tratos, já que o menino está com hematomas no olho e fala que levou um soco do pai", afirmou o tio.

Já o adolescente de 16 anos, apontado como suspeito do crime, retomou a rotina. "Ele ainda está abalado, mas, já voltou a fazer as atividades dele. Ele ainda tem medo de falarem algo pra ele, mas, o laudo apontou que nada aconteceu. Agora, ao que soube da polícia, é a conduta do pai e da madrasta que será analisada e pode até terminar com prisão e indiciamento", comentou o assistente social.

Entenda o caso

A menina de 9 anos e o irmão dela, de 11, foram para a delegacia, no dia 17 de fevereiro, ao se negarem a voltar para casa e denunciarem o crime de estupro, apontando o irmão mais velho, de 16 anos, como suspeito. Conforme o relato das vítimas, os abusos estariam acontecendo há um ano e, além disto, o adolescente também usava droga ao lado das vítimas e as obrigava a fumar maconha e pasta base de cocaína.

Eles foram levados para a delegacia por equipe da Polícia Militar (PM), após denúncia do pais das crianças e a madrasta. As testemunhas contaram que as vítimas estavam passando férias com eles e retornariam hoje para casa, no Jardim Noroeste. Os abusos, no entanto, teriam ocorrido no bairro Tiradentes, região leste de Campo Grande.

"Na hora de ir embora, eles não quiseram voltar pra casa. No início, não queriam contar o motivo e depois falaram. A minha filha contou primeiro, que o irmão de 16 anos a estuprava. Ele é irmão somente por parte da mãe, que faleceu e então a guarda deles ficou com o tio materno. Depois, o de 11 também contou e ainda falou que o rapaz fazia uso de droga e também dava para as crianças", afirmaram o pai e a madrasta das vítimas.

Ainda conforme as testemunhas, a menina estava reclamando de dores na barriga e os familiares acreditam que seja por conta dos abusos. Os envolvidos estão registrando o boletim de ocorrência, como estupro de vulnerável, na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). A pena máxima de internação, no caso do adolescente, é de 3 anos.

*G1 MS

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