Uma das
metáforas que melhor representa a complexidade de nossas forças de segurança
ainda é a imagem do pequeno bloco de gelo exposto, continuado por um imenso iceberg
que não é visto e nem imaginado.
Chamo a atenção
para o fato de que a atividade de segurança em todas as suas dimensões
(municipal, estadual e federal) começa a transitar do policial sólido ao
policial líquido.
Citarei
apenas as características desse novo policial, o líquido, e o leitor, por
contraste, saberá o que já há muito não cabe mais no Estado Democrático de
Direito. Temos artigos, monografias e livros que tratam das Ciências Policiais
– o bacharelado realizado na PM recebe o nome de “Ciências Policiais de
Segurança e Ordem Pública”, o que faz com que tenhamos especialistas vislumbrando
um novo campo ou nova ciência.
Poucos são
os que percebem, por exemplo, que cada servidor (policial militar) presente
diária e religiosamente na região da Nova Luz, leva para casa, dia sim dia
não, as evidências da condição humana:
imperfeição, falência e decrepitude. Sabemos que poucos são os capazes de
extrema sublimação e conseguem virar-se pelo avesso e dar início, a cada dia, a
batalhas que parecem não ter fim.
O coronel Álvaro
Batista Camilo, o qual passou o comando, será lembrando especialmente pelo
empenho na valorização profissional do PM.
O policial
formado em Ciências
Policiais deve enfrentar situações e problemas em diferentes
contextos, ser propositivo, indo além do diagnóstico e formulando propostas de
intervenção da realidade, ser um especialista inteligente, assertivo, de mente
aberta, comprometido, resiliente e que busque o esforço de convergências e de
sínteses.
Além de
policial, sou professor, aliás sou mais professor do que policial, por uma
razão óbvia – meu tempo do policial ativo é limitado, já o de professor não.
Um bom
policial líquido é aquele “apresentador de alternativas”, exemplo – por que não
podemos acumular a docência nas escolas do Estado como outrora?
Fica aqui
meu registro para que tenhamos integrantes das forças de segurança relatando
seus projetos, suas pesquisas e suas opiniões sobre área tão cara à democracia.
Nosso novo
comandante-geral coronel Roberval Ferreira França, formado em administração
como o anterior, tomou posse no último dia 24 de abril, trazendo novos e
importantes projetos, frisando a seus comandados “não se limitem a fazer
polícia, mas que façam história”.
Como jovem
capitão, posso afirmar que na área de segurança pública, em algumas capitais,
já se pode cantar: “Eu vejo um novo
começo de era / De gente fina, elegante e sincera / Com habilidade pra dizer
mais sim do que não”.
RONILSON DE SOUZA LUIZ é capitão da Polícia Militar
de São Paulo, docente da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, graduado em letras pela USP e doutor em educação pela PUC/SP.
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