sábado, 25 de agosto de 2018

'Só dei um tiro no cachorro', diz mensagem apreendida com suspeito de matar cabo da PM em Caraúbas, RN

Mensagens encontradas estavam no celular de um dos suspeito preso pela PRF no dia seguinte ao assassinato do PM (Foto: Redes sociais )

“To vendo a hr esse povo entregar nois. só dei um tiro no cachorro”. A transcrição ao lado, na íntegra, é apenas uma das várias mensagens encontradas no aparelho celular de um dos suspeitos presos por participação direta no assalto a um ônibus escolar que terminou com a morte do cabo da Polícia Militar Ildônio José da Silva, de 43 anos. O crime aconteceu no dia 16 deste mês na RN-117, entre as cidades de Caraúbas e Governador Dix-Sept Rosado, na região Oeste potiguar.

O policial, que estava a caminho de uma faculdade em Mossoró, foi identificado pelos bandidos, retirado do veículo, deitado no chão e executado com vários tiros. O último disparo, na cabeça, foi de espingarda calibre 12.
Policial militar Ildonio José foi morto entre Caraúbas e Mossoró, interior do RN (Foto: Reprodução/redes sociais)

O celular foi apreendido no dia seguinte ao assassinato. O aparelho pertence a um dos três presos pela Polícia Rodoviária Federal durante a abordagem a um Gol preto na BR-110, em Campo Grande, cidade vizinha a Caraúbas. O motorista foi indiciado por favorecimento. Já os outros dois, a polícia acredita que estavam no assalto e que também participaram da execução.

Após ter acesso ao conteúdo das mensagens, o G1 procurou o delegado Sandro Régis, titular da Delegacia Regional de Patu. Foi ele o plantonista que fez o flagrante da prisão dos suspeitos. Além de confirmar a autenticidade das mensagens, o delegado ainda revelou que elas fazem parte do conjunto de provas que compõem o inquérito.

Mensagens

Abaixo, na íntegra, estão transcrições de trechos de mensagens apreendidas no celular do suspeito. São mensagens de WhatsApp datadas do dia 17/08, dia seguinte ao assassinato do cabo Ildônio.

Os nomes dos envolvidos, inclusive nomes e apelidos que são citados durante as conversas, o G1 suprimiu para não comprometer as investigações.

Parte das mensagens são do próprio suspeito durante uma conversa com uma pessoa que a polícia acredita ser uma irmã, momentos antes dele ser preso pela PRF. Essa irmã e a mãe, inclusive, foram presas nesta sexta-feira (24), em Caraúbas, suspeitas de darem apoio ao bando.

Irmã: “ainda bem que sabe”
Irmã: “mataram o caboco (xxx)”
Suspeito preso: “to ligeiro. mataram não”
Irmã: “a Meu Deus. você tava?”
Suspeito preso: “tava sim bandida. dei apoio aos parceirinhos”

Mais adiante, o suspeito e a irmã voltam a trocar mensagens:
Mensagens encontradas no celular do suspeito (Foto: Reprodução/G1)

Irmã: “ei fique ligeiro ai. Passou um Honda Civil de cor preto com dois homens de preto. É polícia. tá passando devagar”
Suspeito preso: “estão fardados?”
Suspeito preso: “prenderam meu pai inocente. venham atras de min seus fela da puta. Num sou eu que voçês querem seus vermes”
Irmã: “pare com isso. não poste isso. voçes estão dentro do quartinho?”
Suspeito preso: “estamos no muro, eu e boy (xxx). me arrume o celular da sobrinha”
Irmã: “certo. Vou colocar pelas telhas. a casa esta aberta para enganar os policiais”
Irmã: “o advogado disse que pai vai ser só interrogado e vai ser liberado”
Irmã: “mãe disse que vai arrumar um carro para colocar você e (xxx) e saírem daqui de caraúbas. mais tá fechado de polícia”
Irmã: “fique com a porta fechada. viu?”
Irmã: “você fica se amostrando com essas fotos com arma. identificaram você”
Suspeito preso: “chegou gente aí?”
Irmã: “fale baixo. da pra ouvir a zuada de você e (xxx) aqui. tá passando dois carros de polícia agora”
Suspeito preso: “era os que tava apitando?”
Irmã: “mãe tá terminando de ajeitar o almoço. ela vai deixar a comida e a água aí viu”
Suspeito preso: “to vendo a hr esse povo entregar nois. só dei um tiro no cachorro”
Suspeito preso: “dê um dinheiro ai pra (xxx) abastecer ae pra ele tirar noiz daki”
Suspeito preso: “vá deixar 100 a (xxx). ele tá la em frente a (xxx)”
Irmã: (xxx) já foi deixar. Ele vai abastecer o carro”

Em outra conversa, cujas mensagens também estão no celular do suspeito, um outro homem que a polícia confirma que ainda não foi preso fala que continua escondido no mato e conta que soube da prisão do irmão dele e das armas que a polícia apreendeu:

Foragido: “dá um jeito ai, nem que seja no mato. Ei tô no mato também”
Suspeito preso: “só. demorou primo. fica escondido ai”
Foragido: “enviou uma foto do (xxx) com o helicóptero”
Suspeito preso: “contato de Dr. (xxx)”
Foragido: “mo fi, voçes saia o mais rapido dai ou vocês se entreguem ou corra. viu?”
Foragido: “pode sair fora. quando tiver por aqui me avise”
Foragido: “omi, eu sei lá, só sei que foram lá e levaram foi tudo. meu irmão (xxx) e meus dois sobrinhos. meu sobrinho (xxx) disse umas besteiras lá, entregou tudo boy, disse umas besteiras la na delegacia. voçês saiam dai. ate as armas apreenderam”
Suspeito preso: mensagem apagada
Foragido: “doido é, (xxx) disse que era polícia demais, só bico vei. a polícia assanhou ate no inferno. a laranjada está toda pra min parceiro. (xxx) disse umas beiteiras na delegacia mermão. entregou todo o serviço”
Suspeito preso: “se ligue na idéia, minha irmã foi ali agora e viu o Fiat Uno de (xxx). Tá ligado?”

11 presos

Até o momento, a polícia já prendeu 11 pessoas por envolvimento direto no assalto e na morte do PM ou por favorecimento aos bandidos. Por participação direta, são três: dois homens e uma mulher. Os outros oito foram todos indiciados por terem, de alguma forma, colaborando com a quadrilha – seja tentando ajudar os bandidos a fugirem do cerco que a polícia montou na região, ou mesmo dando guarida aos criminosos.

Participação direta

Os dois homens presos suspeitos de terem participado diretamente do assalto e da morte do cabo Ildônio foram pegos pela polícia no dia seguinte ao assassinato. Foi durante uma abordagem da PRF a um Gol preto na BR-110, em Campo Grande, cidade vizinha a Caraúbas. Os dois, inclusive, já tinham mandados de prisão em aberto por assaltos e outros homicídios na região. Além da dupla, na ocasião também foi preso o motorista do veículo, que foi indiciado por favorecimento, já que a polícia entende que ele estava dando fuga aos bandidos.

Já a mulher, é uma estudante de Direito que foi presa no dia 19 na cidade de Caraúbas. Segundo o delegado, a universitária foi a única que não foi roubada pelos criminosos que assaltaram os passageiros do ônibus. Além disso, teria sido ela a pessoa que avisou os bandidos que havia um policial militar armado no veículo. "Ela, inclusive, é namorada de um dos criminosos que ainda está sendo procurado", acrescentou o delegado Sandro Régis.

Além da dupla e da universitária, outros seis homens, todos com mandados de prisão já expedidos pela Justiça, ainda estão sendo procurados pela polícia – todos suspeitos de também terem participado do assalto e da execução do PM.

Favorecimento

Por favorecimento, são oito os suspeitos detidos até agora. Um deles é o motorista do Gol, abordado pela PRF em Campo Grande. Outro, é um motociclista que foi preso em Assu. Este homem, segundo as investigações, estava a espera da dupla que o motorista do Gol estava conduzindo, e também foi indiciado por dar guarida aos criminosos.

Outro que foi indiciado por favorecimento é um homem que é conhecido como coiteiro, que é justamente como é chamada a pessoa que dá esconderijo a bandidos. No sítio onde mora, foram encontradas duas espingardas calibre 12. Uma delas, a polícia acredita ter sido a arma utilizada no disparo que foi dado na cabeça do PM.

E ainda tem um desempregado e uma outra mulher, ambos de Caraúbas, que foram presos no dia 22, e que também foram autuados por darem abrigo aos fugitivos.

No dia seguinte, também em Caraúbas, os policiais chegaram a um outro homem. Na casa dele foram apreendidos um revólver com seis munições e uma motocicleta roubada, e que também foi indiciado por dar refúgio à quadrilha.

E, por último, já nesta sexta-feira (24), foram presas outras duas mulheres. Elas são mãe e irmã de um dos homens presos no Gol, que a polícia acredita ter participação direta na execução do cabo Ildônio. “A mãe e a irmã também deram apoio aos criminosos. Inclusive, ficaram levando comida ao bando”, acrescentou o delegado.

Advogado investigado

A polícia ainda investiga um advogado que atua na região Oeste. Segundo o delegado Christiano Othon, que preside o inquérito que apura a morte do PM, o advogado é suspeito de ter repassado informações confidenciais à estudante de Direito, que é apontada como membro da quadrilha.

*G1 RN

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