Em vez de ensinar a investigar, mediar conflitos, preservar o local do crime ou proteger cidadãos, as academias de polícia do Brasil privilegiam o uso da força física e das armas, conclui um dos mais completos estudos já realizados sobre o tema, em 15 países, coordenado pelo sociólogo brasileiro José Vicente Tavares dos Santos. Segundo a pesquisa, no Brasil acabam sendo formados agentes de repressão, e não de segurança pública. Financiados pelos estados da federação, esses treinamentos investem em técnicas arcaicas, com currículos muitas vezes sigilosos. É o que mostra reportagem de Soraya Aggege e Evandro Éboli na edição desta segunda em O GLOBO.Santos, que é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Coimbra, visitou 20 instituições brasileiras. O especialista participa da produção de uma matriz curricular proposta pela Secretaria Nacional da Segurança Pública. A análise que ele faz das instituições é incisiva:"De modo geral, as escolas privilegiam a força física, o uso de viaturas e de armas. Atira melhor quem atinge o coração ou a cabeça do “alvo”. O que há é um grande arcaísmo pedagógico. Estão muito longe da tecnologia, da modernidade. Não há quadros docentes suficientes. Vejo militares aposentados ensinando e impedindo avanços. Fazem segredo até de coisas banais, mesmo se tratando de dinheiro público" avalia.Para Santos, a chamada “ordem-unida”, que domina os currículos das escolas da PM, é um simulacro da estética das Forças Armadas, desnecessária para a execução concreta do trabalho policial, que é o de prestar serviços ao cidadão.PrevençãoA polícia de Nova York iniciou há duas semanas um treinamento especial para policiais que patrulham áreas densamente povoadas por negros e latinos. A ideia é melhorar as relações entre policiais e moradores das comunidades. Desde que as altas taxas de criminalidade dos anos 90 diminuíram, a polícia de Nova York investe cada dia mais num modelo que considera vitorioso: o da prevenção de crimes.MétodoPaulo Serqueira e Elcio Teixeira Júnior são soldados da PM paulista há mais de seis anos. Há duas semanas, sua rotina no policiamento de rua foi interrompida por um chamado urgente. Quando chegaram ao CPA-M1 (Comando de Policiamento da Área Central Metropolitana 1), tiveram armas e carro recolhidos para revisão e substituídos por equipamentos de brinquedo. A missão dos soldados era cumprir a quinta fase do treinamento permanente no Método Giraldi — Tiro Defensivo de Preservação da Vida.O método Giraldi foi desenvolvido pela Polícia Militar paulista em 1996 e está no plano de treino policial há oito anos. Hoje, é recomendado por Nações Unidas, Cruz Vermelha Internacional e Ministério da Justiça. A lógica do método, que tem sido repassado para outros estados e países, é a preservação da vida na ação policial, tanto dos soldados como dos criminosos e transeuntes.
Da Agência O Globo
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