A auxiliar de escritório Jaqueline Vieira sabe o que é passar pelo dilema de ter que atrasar ou adiantar a série de um filho que nasceu no meio do ano. Ela insistiu em matricular Rafael, que aos seis anos já sabia ler e escrever, na primeira série do Ensino Fundamental no Instituto Auxiliadora. Caçula de sua turma, ele demonstrava imaturidade, chegando a ser reprovado no nono ano. Mas a história teve um desfecho feliz por causa do acompanhamento constante da escola e da própria família. Hoje, aos 15 anos, ele está bem com os colegas de sua idade, conseguindo vencer as dificuldades e se sobressair em atividades, inclusive no judô.A história de Rafael é uma constante na rotina de escolas que enfrentam esse dilema quando se deparam com alunos que fazem aniversário em maio, junho, julho e agosto. Ansiosos em adiantar os filhos, como se isso fosse garantir o futuro mais rápido, os pais pressionam as escolas e muitas cedem.Sinais podem indicar que algo não vai bemA psicóloga Débora Lopes da Silva Cardoso passou pelo problema. O filho Tiago, hoje com 18 anos, foi matriculado no primeiro ano do Ensino Fundamental com seis anos quando deveria, na época, ter entrado somente aos sete. "Ele já era alfabetizado e eu imaginava que já estava preparado. Mas percebi que demonstrava imaturidade emocional, brincando muito, igual às crianças de sua idade, mas diferente daquelas de sua turma. Quando chegou no pré-vestibular, seus colegas já tinham 18 anos iam a festas, dirigiam, tinham bem mais liberdade, enquanto que ele, com 16, não desfrutava disso". Hoje, Tiago é formado e já trabalha, mas sua mãe reconhece o trabalho que teve na tentativa de conciliar o fator cronológico com o emocional.SingularidadesA vice-diretora e pedagoga da Escola Doméstica de Natal, Cristine Cunha Lima Rosado, explica que há singularidades com que a escola deve saber lidar e que a instituição de ensino deve ter uma base criteriosa na hora da decisão. Não se deve avaliar apenas sob aspectos cognitivos, mas que se incluanessa avaliação os emocionais. Na sua opinião, a legislação não é bastante clara com relação ao mês em que a criança deve ingressar no ensino fundamental. Isso dá liberdade à escola para avaliar a criança com base em critérios. "A criança precisa ser avaliada como um todo".Para a coordenadora pedagógica do Instituto Auxiliadora, Ester Yglesias Costa, a idade não deve ser o determinante na hora da matrícula, mas apenas uma referência. "Além disso, existe uma idade mínima para que o cérebro atinja o amadurecimento. É como uma fruta que amadurece, sente a falta de nutrientes, perde um pouco da consistência. Cada criança amadurece de acordo com os estímulos porque a aprendizagem é processada na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) e se não tiver estrutura ela não vai aprender porque precisa passar por todos os processos de desenvolvimento cognitivo, psicomotor e social".LegislaçãoO critério básico para as matrículas no Ensino Infantil continua sendo a idade. A lei federal 11.114, de 2005, determina que acriança deve iniciar o Ensino Fundamental aos seis anos, ingressando no primeiro ano, correspondente à antiga alfabetização. Aos sete, o aluno entra no segundo ano, correspondente à antiga primeira série.Na prática, os pedagogos recomendam que as crianças sejam avaliadas. "O próprio aluno mostra os sinais. Pais e educadores devem ficar atentos. Quando ela fica retraída, tímida, irritada, desligada ou pouco participativa na nova sala é sinal de que algo não vai bem", afirma Ester Yglesias Costa.
DN
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