Quando a professora Tânia Rosimeire Lopes dos Santos procurou uma ótica em São Bendo do Trairí, município a 126 km de Natal/RN, onde reside e leciona, teve uma surpresa desagradável ao mandar fazer lentes de contato para a filha caçula: não poderia efetuar a encomenda. Como as oito parcelas de R$ 199 descontadas na folha de pagamento, referentes ao empréstimo de R$ 7.200 consignado pela Prefeitura, não foram repassadas para a instituição credora - a Caixa Econômica Federal - o seu nome foi incluído na lista do Serviço de Proteção ao Crédito. Tânia, no entanto, não seria a única a ser surpreendida. Outros 132 servidores municipais de São Bento também estavam na mesma situação, como o motorista Pedro Moises de Medeiros, que recebeu a notícia enquanto tentava adquirir um cartão de crédito num supermercado de Natal, e o auxiliar administrativo Antônio José dos Santos, um dos 42 lesados pela prefeitura que já acionaram a Justiça. Alguns deles, inclusive, fizeram o empréstimo na Caixa para quitar outros débitos e hoje amargam uma sobreposição de dívidas. Aberto para custear os estudos das duas filhas, o saldo devedor de R$ 2.800 de Antônio Santos, cuja nona parcela já constava como paga na folha, continua integral nos registros da Caixa, consoante comunicado do SPC que recebeu há dois meses. "Quase não acreditei no que li. Todos os meses, a Prefeitura descontava R$ 107 do meu salário e, agora, o banco vem me cobrar algo que já paguei? A cobrança tem que ser feita ao executivo municipal", sugeriu dos Santos. O auxiliar administrativo explicou que, até o mês de maio do ano passado, os servidores recebiam os pagamentos por meio do Banco Bradesco, quando, sem nenhuma explicação por parte da prefeitura, passaram a sacá-los na Caixa. Na ocasião, segundo ele, cartazes com as vantagens que a nova instituição financeira oferecia foram espalhados pelos prédios da prefeitura, estimulando o quadro a efetuar novos empréstimos. "Fizeram de tudo para a gente se endividar", disse. Ainda em conformidade com ele, coincidentemente, os repasses deixaram de ser feitos no período eleitoral. De acordo com o ex-prefeito de São Bento, José Wilton Xavier (PSB), conhecido como Tula, com exceção do mês de dezembro, todas as outras parcelas descontadas nas folhas dos servidores durante a sua gestão foram repassadas para a Caixa. "Apenas o último mês do ano foi penhorado, mas isso foi acordado com o novo gestor. A dívida seria paga no dia 10 de janeiro, data do depósito do Fundo de Participação dos Municípios nos cofres do município", explicou. No entanto, o atual prefeito, José Andrade Dantas (PMDB), o Zé Nilton, disse que, na verdade, três meses (outubro, novembro, dezembro) não foram repassados na administração de Tula. "Quando eu fui pagar a dívida de janeiro no banco, eles disseram que só aceitavam se eu quitasse as outras parcelas. Por isso, fiquei impossibilitado de honrar com o compromisso da prefeitura", justificou. Na segunda-feira, os dois foram à Caixa para negociar o saldo devedor, mais gordograças ao aúmulo de juros. Procurado pela equipe do Diário de Natal, o banco optou por não apontar em qual gestão o repasse dos empréstimos deixou de ser feito, já que dívidas municipais são protegidas por sigilo bancário. Enquanto isso, os servidores de São Bento do Trairí continuam "inadimplentes" e, por isso mesmo, impossibilitados de comprar no comércio.
DN online
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