quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Ensinar é um exercício de imortalidade

“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música / não começaria com partituras, notas e pautas. / Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e / lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. 

Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria / que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas / escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e / as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção / da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes”. Rubem Alves

Um dos temas recorrentes na comunidade docente diz respeito à aprendizagem. Sempre ouvimos e falamos sobre aprendizagem significativa, sobre a não aprendizagem dos nossos educandos, enfim, sobre o processo de aprender e ensinar.

Às vezes me pergunto se estamos efetivamente fazendo o questionamento de forma adequada e, se este mesmo questionamento tem nos levado àquelas reflexões que promovem mudanças. O que é a aprendizagem e, o que realmente sabemos sobre ela?

Existem muitas teorias que tratam desse tema. Cada uma delas, há seu tempo, contribuiu e continua a contribuir com o desenvolvimento dos estudos voltados a melhoria educacional.
Podemos citar alguns pensadores, como Jean Piaget, que criou a teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança. Segundo ele, o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida. Já para Lev Vygotsky, o professor é figura essencial do saber por representar um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente. De acordo com Emília Ferreiro, o aluno não vem para a escola sem saber de nada, ele traz consigo, um aprendizado importante que deve ser aprimorado e contextualizado para promover condições favoráveis as suas necessidades cotidianas.

Para Paulo Freire, o conhecimento é algo a ser construído na coletividade, pelo qual o movimento da ação–reflexão é tido como fundamental. Sua pedagogia se caracteriza por ser dialógica e também dialética. Ele dá sua contribuição para a formação de uma sociedade democrática ao construir um projeto educacional libertador.

Segundo Howard Gardner, representante da Teoria das Inteligências Múltiplas, não se deve cobrar do aluno somente o desenvolvimento da inteligência lógico-matemática e a linguística, pois, o ser humano tem outras competências e, qualquer uma delas pode estar mais evidente que as outras, oferecendo condições de progressão intelectual/produtiva. Diz ainda que o ser humano é dotado de múltiplas inteligências e tem que ser valorizado por inteiro.

Outro pesquisador da educação, David Paul Ausubel dizia que, quanto mais sabemos, mais aprendemos. Famoso por ter proposto o conceito de aprendizagem significativa. Para ele, aprender significativamente é ampliar e reconfigurar ideias já existentes na estrutura mental e com isso ser capaz de relacionar e acessar novos conteúdos.

O que me questiono continuamente é se nós, enquanto profissionais de educação, conhecemos essas teorias no sentido amplo de aplicá-las no nosso cotidiano em sala de aula visando à melhoria da qualidade de ensino.

Há quem atribua a ausência da aprendizagem nas unidades escolares do nosso país, apenas à falta de disposição do educando em aprender, esquecendo que o professor ou professora é ainda o profissional que tem qualificação para possibilitar a construção e a reconstrução do conhecimento. Conhecer e aplicar as teorias de pessoas que passaram anos estudando o comportamento humano nas escolas, já seria um bom caminho a ser trilhado.

É evidente que a falta da aprendizagem dos educandos não pode ser, de forma alguma, atribuída somente ao profissional de educação, pois, como já dissemos inúmeras vezes, o educando faz parte do seu meio e o meio também influi na sua capacidade assimilativa, ou seja, como o ser humano é integral não teria como atribuir suas dificuldades de aprendizagem unicamente à escola e aos seus profissionais.

O que gostaria de pontuar é a necessidade de compreendermos as teorias e buscar na nossa pratica cotidiana a melhor forma de aplicá-las para buscar a formação real e integral dos nossos educandos. E como bem disse Rubem Alves: “Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”.

E como iniciei este artigo com as palavras de Rubem Alves, terminarei também com um pensamento dele que me encanta pela verdade e singeleza: “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais”.

Autoria: Márcia Carvalho.

*arfn10

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